Tecnologias Quânticas no Nordeste: Em entrevista, Profº Rafael Chaves Defende Estratégia Nacional no II Colóquio de Pesquisa em João Pessoa

Por Josias Moura de Menezes, João Pessoa/PB

João Pessoa sediou um evento pioneiro que destaca o potencial científico do Nordeste no campo das tecnologias quânticas

O II Colóquio de Pesquisa e Colaboração em Tecnologias Quânticas, realizado em João Pessoa durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2024, reuniu especialistas de diversas partes do Brasil para debater o futuro da computação quântica e sua importância estratégica. Entre os destaques do evento, a palestra e a entrevista concedidas hoje pelo professor Drº Rafael Chaves, líder do grupo de pesquisa em informação quântica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), trouxeram reflexões importantes sobre o papel do Brasil nesse campo emergente.

“É urgente ter uma estratégia quântica nacional”

Profº Rafael Chaves, também vice-diretor do Instituto Internacional de Física da UFRN, enfatizou a necessidade de ações coordenadas para o desenvolvimento da computação quântica no Brasil. “Nosso grupo busca entender como algoritmos quânticos podem alcançar maior eficiência em diversos problemas de otimização e na segurança da informação”, explicou. Segundo ele, a falta de absorção de talentos formados no país é um dos principais entraves para o avanço nacional na área. “Estamos ‘exportando’ profissionais altamente qualificados para outros países sem nenhuma contrapartida. Não existe uma universidade de ponta no mundo em computação quântica que não tenha um brasileiro de destaque.”

Formar um pesquisador na área custa, em média, R$ 3 milhões, segundo Chaves, mas o mercado interno e mesmo a academia têm dificuldades em absorver essa mão de obra. Ele destacou a importância de eventos como o colóquio para fomentar uma estratégia nacional que aproveite o capital humano já existente e promova maior interação entre os polos regionais de pesquisa.

Ciência descentralizada: o papel do Nordeste

O professor também pontuou o impacto simbólico e prático de realizar o evento em João Pessoa. “Trazer um encontro como este para o Nordeste permite destacar o trabalho de alta qualidade que é desenvolvido na região. Quando comecei minha carreira, eventos nessa área só ocorriam fora do Brasil. Depois, no Sudeste. Hoje, temos a oportunidade de promover discussões estratégicas em nossa própria região”, comentou Chaves.

O Nordeste é apontado como um importante polo emergente na pesquisa em tecnologias quânticas, abrigando uma concentração crescente de cientistas e projetos de relevância internacional. Para Rafael Chaves, essa união regional, conectando estados como Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Paraíba, pode ser a chave para impulsionar o Brasil a um lugar de destaque global na área.

Desafios e oportunidades para o Brasil quântico

Desde os anos 1990, o Brasil vem se destacando na produção acadêmica em computação e informação quântica, figurando entre os dez melhores países na formação de mão de obra na área. No entanto, o país enfrenta barreiras para transformar esse potencial em liderança tecnológica. “Atualmente, dispositivos quânticos estão acessíveis apenas a países com investimentos sólidos. Se não agirmos agora, essa exclusão tecnológica vai se aprofundar, prejudicando o Brasil no cenário global”, alertou Chaves.

O colóquio contou também com a participação de representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que discutiram propostas para uma estratégia nacional de computação quântica. Entre as sugestões, destaca-se o fortalecimento de parcerias público-privadas e o aumento de investimentos em infraestrutura e equipamentos.

Futuro promissor, mas incerto

A fala de Rafael Chaves reforçou o papel da ciência como motor de transformação, mas também evidenciou a urgência de decisões estratégicas. Com a computação quântica despontando como uma tecnologia revolucionária, capaz de impactar desde a segurança de dados até a otimização de processos industriais, o Brasil precisa agir rapidamente para não perder o ritmo de uma corrida já em andamento.

Eventos como o II Colóquio de Pesquisa e Colaboração em Tecnologias Quânticas são passos importantes nesse caminho. Contudo, para Rafael Chaves, o verdadeiro desafio será transformar o debate em políticas concretas. “Espero que este seja apenas o segundo de muitos colóquios que contribuam para consolidar o Brasil como um protagonista na ciência quântica mundial.”

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