Enganados e envergonhados: os soldados russos que abandonam Putin

Por David Menezes 30/07/24 15H30

A guerra na Ucrânia provou estar muito longe da breve operação militar que Putin prometeu aos seus soldados. Eles estão amargurados, cansados e não querem lutar. Assim, o número de deserções aumenta cada vez mais entre as tropas russas.

No entanto, não é apenas a exaustão da guerra que está a levar os soldados russos a abandonarem os seus postos. Alguns querem sair porque acreditam que a guerra que travam é injusta ou sentem que foram enviados para o matadouro.

De acordo com o meio de comunicação independente Mediazone, nos primeiros seis meses de 2023, foram abertos 2.076 processos criminais contra soldados russos acusados de desertar. A Rádio Free Europe salienta que é o dobro da quantidade de casos instaurados contra suspeitos desertores em 2022 e três vezes superior ao de 2021, antes da guerra na Ucrânia.

Desde o início da guerra, a mídia teve a oportunidade, em algumas ocasiões, de falar com soldados russos que decidiram que não queriam lutar. Um deles disse anonimamente à Reuters: “Esta não é a nossa guerra” e revelou que o governo russo nem sequer cumpre com suas promessas. “De volta à Rússia, fomos alinhados e informados de que todos receberiam uma diária, extras para combates e medalhas”, continuou. No entanto, nada disso foi fornecido, com o qual ele e outros 13 soldados desistiram da guerra.

No início dos combates, a Ucrânia divulgou vídeos de alguns dos que foram capturados sendo autorizados a falar com as suas mães ao telefone e admitindo que estavam a disparar contra alvos civis. Aliás, estas gravações são contrárias à Convenção de Genebra: os prisioneiros não podem ser exibidos ou utilizados de qualquer forma (mesmo como propaganda).

Outro vídeo compartilhado pela Ucrânia que se tornou viral mostrava soldados afirmando que regressavam a casa sentindo-se “enganados”, porque lhes tinham dito que eles iriam apenas realizar manobras militares. No início de 2022, a CNN obteve o depoimento de um oficial (cujo nome não foi revelado) enviado para a Crimeia e que, de surpresa, viu-se penetrando em território ucraniano. Ele alegou que não foi informado de que ajudaria na “desnazificação” da Ucrânia e o mesmo aconteceu com seus colegas. “Muitos não entenderam para que servia tudo isso e o que estávamos fazendo aqui”, explicou.

O soldado contou ao meio de comunicação que sentiu a necessidade de esconder o rosto, por estar com vergonha de invadir terras ucranianas. Enquanto os russos sofriam um ataque mais pesado dos ucranianos, o soldado disse: “Durante a primeira semana ou mais, fiquei em estado de tremor secundário. Não pensei em nada.” O homem contou ainda, à CNN, que, depois de ver a rejeição que a presença russa causou entre o povo da Ucrânia, decidiu partir.

Os soldados russos podiam renunciar, legalmente, durante os primeiros cinco meses da guerra. O oficial com quem a CNN conversou aproveitou a oportunidade, embora fosse avisado de que um processo criminal contra ele poderia ser aberto. No entanto, a partir de setembro de 2022, Putin lançou um decreto de mobilização parcial que desautorizava os que já lutavam na Ucrânia a abandonar o serviço militar. Assim, a maioria dos soldados que querem abandonar a guerra só consegue fazê-lo de forma ilegal.

Segundo o Politico, a única forma legal de sair dos combates na Ucrânia, agora, é a morte, a alta médica, a prisão ou atingir a idade de reforma obrigatória.

As autoridades ucranianas afirmam que os soldados russos desertam diariamente. No entanto, devido à propaganda de guerra, é difícil dizer até que ponto esta informação é exata. De acordo com o The Moscow Times, em artigo publicado em dezembro de 2023, “os pedidos de ajuda dos soldados russos para desertarem de suas unidades na Ucrânia quase duplicaram nos últimos meses”. O jornal informou que o grupo ‘Idite Lesom’ ou “Get Lost”, que ajuda os russos que não querem lutar na guerra da Ucrânia, recebeu 577 pedidos, de setembro a novembro de 2023, o que representa um aumento de 89% em comparação aos dados de junho a agosto de 2023.

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